Amor

No filme

No Filme, o amor de Jack e Rose é praticamente instantâneo, desde a primeira interação entre os dois, já é evidente que algo maior que eles tomava conta. Durante toda a trama, esse amor desenvolve-se calcado na autenticidade e intensidade. Eles desafiam as convenções sociais da época e se entregam ao seu amor, encontrando um refúgio na companhia um do outro, onde podem ser verdadeiramente eles mesmos. A expressão máxima desse sentimento é no final do filme, quando Jack sacrifica sua vida para garantir que Rose sobreviva, colocando-a em um pedaço de madeira flutuante. Jack morre de hipotermia na água gelada enquanto segura a mão de Rose.


(Frases atrbuídas a Victor Hugo.  No entanto, não há registro definitivo de que ele tenha realmente proferido ou escrito essa frase em seus escritos conhecidos. É possível que seja uma expressão atribuída erroneamente a ele ao longo do tempo.) 

No Romantismo

Para a primeira geração romântica, o amor se tornou absorvente, metafísico. A partir da ideia da preponderância do sentimento sobre a razão, a vida foi marcada por um profundo subjetivismo, já que a vida afetiva passou para o primeiro plano, e, assim, acompanhada de uma conduta que se caracterizava por transbordamentos e confissões de caráter extremamente íntimo e pessoal. Só foi possível existir essa forma de amor a partir do momento no qual foi reconhecido o caráter único de cada pessoa, pois ele era calcado em seu valor insubstituível, algo que só é possível se cada indivíduo é único. O amor passou a ser a força mais forte do mundo, capaz de superar qualquer obstáculo, uma vez que ele estava acima dos seres-humanos, era metafísico. Ele também se tornou a expressão da incontrolabilidade do mundo e do não pertencimento do ser-humano a uma ordem maior, já que tomava conta das pessoas e as fazia agirem irracionalmente. 

O amor passa a ser considerado como um: 

"princípio divino" "o amor adquire direitos imprescritíveis que primam sobre a tradição social ou as leis civis": "Dois seres que os homens separam têm o direito a unir-se diante de Deus, dois seres que os homens uniram sem amor, têm o direito de considerar essa união como nula"

O amor de Jack e Rose é a expressão completa desses ideais, já que desde o primeiro momento eles são unidos incontrolavelmente e, daí em diante, não conseguem ficar separados. Esse amor faz com que eles ajam irracionalmente diversas vezes, ignorando fatores socio-econômicos, como o fato de eles serem de classes sociais diferentes e não terem dinheiro suficiente para viver, em prol de seu amor, que é muito mais importante que fatores sociais ou que as leis civis- como citou Victor Hugo. Eles são completamente consumidos por essas emoções e assumem que não vale a pena viver se estiverem separados, demonstrando a conduta de transbordamentos em relação ao amor. 


Outra forma em que são manifestadas tais convicções é na insatisfação de Rose com seu noivado arranjado com Caledon Hockley. Tal arranjo expressa os valores burgueses da época: a busca para atingir um objetivo, fundamentada na disciplina, na eficiência, na organização; a definição de identidade como aquilo que o cerca, os objetos, o capital, o status, o sobrenome; e também a racionalidade definida por quão bem o homem consegue resistir às suas vontades, sua natureza. Isso se dá pelo fato de que o acordo não ocorre por motivações emocionais, advindas de um carinho ou até mesmo um amor entre as duas personagens, e sim por interesses econômicos e sociais. Desta forma, o casamento é só mais um meio para atingir um objetivo: a ascensão. A revolta (e desespero) de Rose e, posteriormente, de Jack, a respeito do arranjo e o fato de ela se debruçar em um amor motivado pelas emoções e, principalmente, economicamente imprudente evidencia ao máximo a contraposição romântica aos valores burgueses.

Tal contraposição foi a base da construção do pensamento romântico da 1ª geração. Deste modo, assim como Jack e Rose, os românticos viam o casamento arranjado como algo que ia contra os valores do amor verdadeiro, da liberdade individual e da autenticidade. Para eles, o amor deveria ser uma força primordial na vida das pessoas e que o casamento deveria ser uma escolha baseada em sentimentos genuínos e não em conveniência social ou financeira. Assim como dito por Victor Hugo na citação já apresentada: "dois seres que os homens uniram sem amor, têm o direito de considerar essa união como nula".

Finalmente, o ato de amor mais significante e memorável do filme, isto é, o sacrifício de Jack para garantir a sobrevivência de Rose, é a expressão máxima da concepção do amor no Romantismo. A ideia de um sentimento que ultrapassa os limites físicos do corpo, que está além da mera objetividade material, ou seja, tem um caráter metafísico é levada ao extremo na morte. Ela proporciona o estado máximo de subjetividade e a oportunidade de um amor eterno. Segundo Michael Korfmann: (sobre o texto 'Os Sofrimentos do Jovem Werther')

"A comunicação romântica sobre a morte como possível eternização daquilo que seria o 'auge do amor e prazer absoluto' termina nos detalhes assustadores da morte física, mantendo assim o texto suspenso entre a semântica extática – exaltada e sedutora do amor eterno – e o fim atemorizador da existência biológica."

Deste modo, a partir do momento em que o amor entre dois indivíduos não pode ser forçado, planejado, refreado ou controlado, sua extensão inteira é calcada na margem, na iminência da infelicidade. Assim, ele é marcado pela vivência intensificada da celebração do clímax romântico. Com a morte de Jack, o amor incondicional e irrefreável das personagens é eternizado em seu ápice, deixando assim apenas experiências de um amor mútuo que permitiu, durante sua duração, uma salvação da incerteza absoluta. 

Essa eternização, quando somada às representações visuais do real desastre que foi o naufrágio do navio, causa o que Korfmann chamou de "semântica extática". Quase como um questionamento moral sobre o significado da morte, biologicamente e emocionalmente falando. 

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